Rss Feed
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
  1. Aridez, paz, amor

    26 de abril de 2013


    Ante a aridez dos corações,
    Alguma paz, algum amor.





  2. Círculo

    18 de abril de 2013

    (Emerson Leal/Tom Zé)

    Todos finos e educados
    Todos elegantes e limpos
    Asseados, sérios, sisudos

    Todos são compenetrados
    Todos são católicos, castos
    Argumentam com fluência
    Pois são alfabetizados

    Porém, quanto à hipocrisia
    E no seu dom perdulário
    Têm nível universitário

    Todos são contra o vício
    Todos abominam o vício
    E combatem tudo o que é vício

    Não aceitam viciados
    Nunca comem no mesmo prato
    Não perdoam nenhum vício
    Não sabem de nenhum vício

    Não querem saber de vícios
    Mas no seu vício diário
    Têm nível universitário




  3. Nascemos num campo de futebol
    Carregamos no peito, cada um, batalhas incontáveis
    Projetamos a perigosa imagem do sonho.
    Nada causa mais horror à ordem do que homens e mulheres que sonham.
    Nós sonhamos. E organizamos o sonho.
    Nascemos negros, nordestinos, nisseis, índios,
    mulheres, mulatas, meninas de todas as cores,
    filhos, netos de italianos, alemães, árabes, judeus,
    portugueses, espanhóis, poloneses, tantos...
    Nascemos assim, desiguais, como todos os sonhos humanos.
    Fomos batizados na pia, na água dos rios, nos terreiros.
    Fomos, ao nascer, condenados a amar a diferença.
    A amar os diferentes.
    Viemos da margem.
    Somos a anti-sinfonia
    que estorna da estreita pauta da melodia.
    Não cabemos dentro da moldura...
    Somos dilacerados como todos os filhos da paixão.
    Briguentos. Desaforados. Unidos. Livres:
    como meninos de rua.
    Assombrados pela vertigem dos ventos que desatamos.
    Venceu a solidez da mentira, do preconceito.
    Desta vez a fortaleza ruiu diante dos nossos olhos.
    E só havia ratos depois dos muros.
    A fortaleza agora está vazia
    ou povoada de fantasmas.
    O caminho que conduz a ela passa por muitos lugares.
    Caravanas: pelas estradas empoeiradas,
    pela esperança empoeirada do povo,...
    mas sobretudo pela invencível alegria
    que o rosto castigado da gente demonstra à sua passagem.
    Os filhos da margem têm os olhos postos sobre nós.
    Eles sabem, nós sabemos que a vida não nos concederá outra oportunidade.
    Hoje temos uma cara. Uma voz. Bandeiras.
    Temos sonhos organizados.
    Queremos um país onde não se matem crianças
    que escaparam do frio, da fome, da cola de sapateiro.
    Onde os filhos da margem tenham direito à terra,
    ao trabalho, ao pão, ao canto, à dança,
    às histórias que povoam nossa imaginação,
    às raízes de nossa alegria.
    Nosso retrato futuro resultará
    da desencontrada multiplicação
    dos sonhos que desatamos.

    Pedro Tierra - 1994

  4. A música cantada e tocada na língua inglesa está tão ou mais presente na vida dos brasileiros quanto a música de nossos conterrâneos. Muito por conta de um processo histórico de aquisição de cultura pelo nosso país, que sempre recebeu entusiasticamente “de fora” manifestações artísticas diversas. Especificamente a música de raízes anglo-saxônicas, por sua vez, ganhou força nos moldes atuais, mais expressivamente em decorrência de um processo de expansão cultural norte-americano a partir de meados do século passado (também por influência de uma pressão político-ideológica da época).

    O fato é que, para muitos brasileiros, a música cantada em inglês soa com muito mais fluidez aos ouvidos do que canções lusitanas, por exemplo. Em geral, nossa geração atribui qualidade superior aos sons da Billboard. Sou um apreciador declarado da música tupiniquim e procuro entrar em contato com músicas de outras línguas, que não a inglesa, sempre que possível. Mas ao sintonizar nossas rádios – uma das formas que tenho de ficar “antenado” no que está acontecendo no mundo da música –, a predominância anglo-saxã é evidente.

    De tempos em tempos, entre centenas de pops pasteurizados e outros milhares dances contagiantes (e uniformes), surgem sons que me chamam atenção pelo inusitado, pela possibilidade de ser algo inovador (ainda que, no fundo, nem seja tão novidade assim) e fora das fórmulas para o “sucesso garantido”. Tem sido assim com um som que sempre me chamou a atenção e recentemente descobri se tratar da música Folk (da palavra folclórica mesmo), atualizada em Folk-Rock ou Folk-Pop.

    Um dos expoentes e responsáveis por influenciar este estilo é Bob Dylan, um dos grandes  músicos norte-americanos, que despontou para o sucesso na década de 1960, e cuja música carrega influências de Blues e Country. 

    (Ouça alguns dos clássicos do Folk-Rock de Dylan enquanto lê este post, para você saber do que estou falando!).


    Recentemente, conseguiu espaço nas rádios brasileiras (sem grandes destaques) a banda The Lumineers, de Nova Jersey, que lançou álbum homônimo de estreia em 2012. Além da contagiante canção “Ho Hey”, sucesso que garantiu ao grupo estar listado entre as 10 maiores vendas nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido no ano passado, o disco traz outras pérolas musicais, como “Stubborn Love”, “Submarines”, só pra citar algumas entre tantas. 

    (Continue ouvindo, agora o som dessa banda, e veja se não é realmente diferente e bom de ouvir)


    Entre outras bandas que fazem sucesso relativo dentro do universo deste rótulo musical estão a Mumford and Sons, esta inglesa de Londres, muito querida entre os brasileiros que gostam de descobrir música pela internet. Outros que chamam a atenção são os americanos do  Vetiver, grupo com ótimas canções, entre elas a quase country “Hook e Ladder” ou a pop “More of this”.

    Folk à moda brasileira

    No Brasil, o Folk também influenciou bandas do chamado universo “indie”, que ganhou a cena musical nos últimos anos com o crescimento da relevância da internet como difusora cultural. Música brasileira com referências anglo-saxônicas ou música de língua inglesa cantada em português – vai depender do grau de crítica que seu ouvido faz à músicos nacionais que bebem da fonte estrangeira –, o Vanguart é o maior expoente nacional desse gênero atualmente (num passado não muito distante, podemos considerar o som de Raul Seixas e Mutantes, com alguma proximidade com o estilo de Dylan).

    Desde os primeiros acordes da banda, passando pelo primeiro disco “Vanguart”, lançado em 2007 (cantado parcialmente em inglês), até o mais recente e ótimo "Boa Parte de Mim Vai Embora", de 2011 (este predominantemente em português), a influência do Folk-Rock é evidente. Em canções do primeiro - como “Semáforo” , “The last time I saw you” - ou do segundo – mais rock com “Se tiver que ser na bala, vai”, mais melancólico em “Nessa cidade”, ou flertando com referências latinas em “Mi vida eres tu” – encontramos o Folk à moda brasileira.

    O estilo, como remete a própria raiz etimológica da palavra - resultado da sabedoria popular (folk lore) -, era a música feita fora dos círculos da alta cultura urbana. Em nossa aldeia global, o Folk-Rock/Folk-Pop também corre às margens dos holofotes do 'mainstream'  (ou aportuguesando a expressão: indústria cultural), e, apesar de ter algumas exceções radiofônicas, ainda é propagado, sobretudo, por meios alternativos de difusão cultural. 

    Ouça outra lista variada com bandas citadas neste post, e outras que não foram:

    https://soundcloud.com/gabriel-araujo-16/sets/folk-rock-e-folk-pop


  5. A vida do líder africano Nelson Mandela não caberia em uma trilogia, quanto menos em um único filme. Recentemente, duas inspiradas e inspiradoras produções americanas, A luta pela liberdade (Goodbye Bafana) - 2007 e Invictus – 2009, retrataram parte da biografia do ex-presidente, símbolo da resistência ao apartheid (regime de segregação racial adotado entre 1948 e 1994 na África do Sul) e referência mundial na luta contra o racismo.

    Apesar de não esgotarem as facetas dessa figura tão importante para a história contemporânea, os filmes mostram em meio aos dramas vividos pelos personagens centrais, momentos cruciais da biografia de Madiba (o apelido carinhoso de Mandela que remete ao clã da qual sua família descende). O primeiro termina no momento em que Mandela ganha a liberdade, em 1990, depois de 26 anos na prisão. O segundo começa justamente com cenas de Mandela sendo solto e se tornando presidente da África do Sul.

    Portanto, são filmes que, mesmo não sendo continuações oficiais, servem muito bem à transição entre os dois períodos da história do líder africano. E as semelhanças entre as narrativas vão além do fato de tratarem da biografia de uma única personalidade. Ambos têm como co-protagonistas homens brancos que veem suas vidas serem modificadas pelo relacionamento marcante com Mandela. É a metáfora para a influência de Mandela nas transformações ocorridas em seu país.

    A luta pela liberdade conta a história de James Gregory (Joseph Fiennes), um típico branco sul-africano, que enxerga os negros como seres inferiores, assim como a maioria da população branca que vivia na África do Sul sob o apartheid dos anos 60. Crescido no interior, ele fala bem o dialeto Xhosa. Exatamente por isso, não é um carcereiro comum: atua, na verdade, como espião do governo com a missão de repassar informações do grupo de Nelson Mandela (Dennis Haysbert) para o serviço de inteligência.

    A convivência com Madiba, porém, cria um forte laço de amizade entre eles e transforma James em um defensor dos direitos negros na África do Sul. Dirigido por Bille August, é um filme que apela para relatos mais objetivos dos fatos, sem cenas de forte apelo emocional ou ufanismos que engrandeçam a figura dos protagonistas.

    Numa das melhores cenas de Goodbye Bafana, Mandela e James se aproximam ainda mais relembrando a infância de ambos num jogo/luta tribal.

    Invictus é o típico filme americano de exaltação aos feitos heroicos de seus personagens diante de uma situação desafiadora – não necessariamente algo negativo ou que distorça a realidade quando se sabe que Mandela ganhou, por exemplo, o Nobel da Paz por suas ações à frente do país. Nesta produção, do diretor Clint Eastwood, Nelson Mandela (Morgan Freeman), recentemente eleito presidente, tinha consciência que a África do Sul continuava sendo um país social e economicamente dividido pelo racismo, em decorrência do apartheid.

    A proximidade da Copa do Mundo de Rúgbi (o esporte mais popular na África do Sul), pela primeira vez realizada no país, dá a Mandela a ideia de usar o esporte para tentar unir a população. Para tanto, chama o jogador Francois Pienaar (Matt Damon), capitão da equipe sul-africana, para uma reunião e o incentiva a levar a seleção nacional ao campeonato. Pienaar vira um aliado de Mandela na empreitada e acaba lutando por algo muito maior do que a vitória nas partidas: ele consegue fazer com que os jogadores, até aquele momento todos brancos, aceitem jogar ao lado de atletas negros. E com isso, representar que era possível a convivência e cooperação entre pessoas de cores de pele diferentes.

    Uma das últimas cenas de Invictus, quando a seleção de Pienaar vence e negros e brancos torcem e comemoram juntos

    A trajetória de Nelson Mandela provavelmente dará outros bons filmes, já que sua história apresenta fatos singulares que chamam a atenção. Assim como outras personalidades históricas importantes, há em sua biografia fatos contraditórios, como a conduta de pessoas próximas a Mandela (entre elas uma de suas ex-esposas, Winnie, envolvida em vários escândalos políticos). Nada, porém, que diminua seu valor para os direitos humanos.

    Com sinopses do site www.adorocinema.com