ENCONTRO Proposta do Trem do Samba foi recriar memória de resistência da
música brasileira
Velha Guarda da Império Serrano em um dos vagões do Trem do Samba
O subúrbio acolheu de braços abertos aqueles que trilharam, no último sábado, vindos de todas as partes da cidade e até de outras cidades do Brasil e do mundo, o trajeto do Trem do Samba.
O festival de grandes proporções, em que se transformou a festa do Dia
Nacional do Samba (2 de dezembro), parecia promover uma espécie de
reconciliação entre os bairros do Rio.
Cinco trens lotados saíram da Central do Brasil com destino a Oswaldo
Cruz, com rodas de samba em cada vagão. O bairro, povoado em grande parte, no
início do século passado, por aqueles que foram removidos à força pelas
reformas sanitaristas, foi o palco para esse encontro que o samba mais uma vez
foi capaz de promover.
"O Trem do Samba representa o recriar de uma celebração, de uma
memória de resistência da música brasileira", afirma Marquinhos Oswaldo
Cruz, o sambista que, em 1991, refez a viagem de trem que deu origem ao
festival.
A releitura da viagem que Paulo da Portela fazia, no início do século
passado, para fugir da repressão ao samba, ganhou contornos de festa popular.
"A mesma polícia que antes perseguia o samba, hoje abre alas pra
ele passar. O samba nunca foi de arruaça, como dizia Carlos Cachaça. Era a
alegria do povo na praça Onze, uma manifestação da cultura popular, sincera,
honesta", ressalta Monarco, da Velha Guarda da Portela, escola de samba
que surgiu entre Oswaldo Cruz e Madureira.
Sambista representante de outra escola de samba da região - a Império
Serrano -, Aluízio Machado também destacou o caráter democrático do evento.
"Hoje o samba pode dizer que tem uma festa democrática, que todo mundo
acompanha junto, sem distinção", pontua.
No evento, shows simultâneos faziam com que o público estimado em mais
de 60 mil pessoas, somente naquele dia, pudesse aproveitar as mais de 50
atrações musicais. Na comparação bem humorada com outros festivais de música
que acontecem na cidade, o 'Rock in Rio do samba' não deixou a desejar nos
quesitos evolução e harmonia, e mostrou, com desenvoltura, o jeito brasileiro
de festejar.
Paulinho da Viola: 'Ninguém controla a força que o samba tem'
Músico que tem sua trajetória relacionada à das escolas de samba de
Oswaldo Cruz e Madureira, Paulinho da Viola foi uma das atrações do Trem do
Samba. Seu show, no palco João da Gente, um dos sete montados, encerrou o
festival que já acontecia desde a segunda-feira.
Paulinho da Viola destacou a iniciativa de comemorar o Dia do Samba com
uma grande festa. "Durante muito tempo era uma data conhecida. Algumas
pessoas se reuniam em suas escolas, mas não havia um evento aberto, maior, que
levasse a data para um número maior de pessoas", afirmou, celebrando o que
chamou de a grande estrela do evento: o samba.
Para o cantor e compositor, a manifestação cultural tem força própria e consegue
levar o nome do Brasil para o mundo. "Ao longo do tempo, muitos já
disseram que acabaria, que não fazia sentido. Mas o samba já foi para o mundo.
Visitar, por exemplo, o Japão e ver que há escolas de samba com pessoas de lá
tocando, mostra que essa coisa do povo da gente tem uma força que ninguém
controla", enaltece.
*Publicado no jornal Brasil de Fato
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