Não é de hoje nem de ontem, que o Rio de Janeiro é um dos expoentes culturais palco de convergência das mais diversas referências musicais
brasileiras. E foi esta pluralidade que permitiu que dois promissores
músicos da MPB, de diferentes lugares do país, fizessem juntos o pré-lançamento
de seus respectivos CDs. No show “Da Bahia a Minas”, que marcou as noites
de terça-feira durante o mês de Julho, no bar Semente, na Lapa, Emerson Leal, o baiano, e César
Lacerda, o mineiro, apresentaram ao público suas composições.
Em um primeiro momento a mistura de tão diferentes referências pode soar improvável, como pão de queijo e acarajé. Mas no palco a distância geográfica
se dilui e a originalidade musical de ambos faz do show um momento de
celebração da MPB.
Emerson Leal vira “músico da banda” de Cesar Lacerda e
vice-versa. As canções, composições próprias de ambos que serão lançadas em
álbuns distintos até o final do ano, são apresentadas aos ouvidos curiosos e
atentos da plateia presente no espaço localizado aos pés dos arcos, no bairro
boêmio carioca.
A primeira parte do show fica por conta de César Lacerda, mineiro
de Diamantina, que já participou de projetos como o “Por um passadomusicável” e “Coletivo Abgail”, de repercussões relativas na internet e nos
palcos da cena alternativa Brasil afora.
As canções autorais de César, algumas delas já disponíveis
em EP no Musicoteca, ganham roupagem acústica bem diferente dos arranjos
conhecidos. A originalidade das experimentações sonoras presentes no EP em
canções como “Herói” e “Namorin”, dá lugar à crueza da “voz e violão” (com um
pouquinho de percussão em alguns momentos) e o tom intimista das composições
prevalece. O mineiro até se arrisca em compartilhar: “essa (música) foi feita em
homenagem a uma prostituta portuguesa que conheci em Lisboa”.
Esquentando a segunda parte da noite, Emerson Leal chega com
sua música de referências diversas e tons coloridos. Seu repertório que
remete a vários estilos musicais é recheado de boas composições assimiláveis em
termos de conteúdo – letras que contam situações com as quais qualquer um se
identificaria –, mas que fogem a obviedades na forma. A sonoridade das palavras
ganha peso em suas composições que, por isso, se arriscam em neologismos de
expressões como “me love-me”. O efeito surpresa é outro recurso poético
presente em canções como a divertida “Blues da Vampira”.
Soteropolitano radicado no Rio de Janeiro, Emerson tem a
musicalidade na sua formação. Músico intuitivo, montou show próprio
intitulado “Arte final”, apresentado em teatros na capital Baiana, no início dos anos 2000. A participação na extinta banda de blues tupiniquim Oda Mae Brown possibilitou ao compositor explorar um tom descontraído, ecoado hoje em algumas de suas atuais
poesias musicadas.
Sua participação como músico em shows e gravações de
diversos artistas da cena da MPB rendeu parcerias com nomes como Tom Zé e Luiz
Tatit. Parcerias estas que, promete, “estarão registradas no CD de estréia”,
antes de emendar a bonita composição em conjunto com Tatit “Das dores e das
flores”.
Os duetos de César e Emerson no final do show para levar, além de canções autorais, músicas de Caetano Veloso e Chico Buarque (só para citar dois deles) apresenta
uma amostra do vasto universo de referências que influenciaram musicalmente
seus repertórios. A participação da cantora e compositora também estreante
Luiza Brina foi um regalo a mais para quem já estava satisfeito por
ter ouvido amostras de MPB de qualidade ao longo da noite.
0 comentários:
Postar um comentário