Beco do Rato promove
rodas de samba desde 2005 em espaço cultural que reverencia a
religiosidade afro-brasileira
Em uma das regiões
pouco atendidas em termos de políticas públicas do Rio de Janeiro,
o Beco do Rato funciona, desde 2005, como um espaço cultural de
promoção do samba e do choro, da história da cidade e das
referências religiosas afro-brasileiras.
Nas vizinhanças do
bar, localizado entre as ruas Joaquim Silva e Moraes e Vale, na Lapa,
os prédios antigos estão, em sua grande parte abandonados ou em
péssimo estado de conservação. É neste cenário que o espaço
cultural, charmoso nos detalhes, surge como mais uma opção para
quem gosta de ouvir sambas de todas as épocas.
“Antes do Beco do
Rato, nesse pedaço moraram Chiquinha Gonzaga e Madame Satã. Também
circulavam por aqui Manuel Bandeira, Noel Rosa, Sinhô e Portinari”,
afirma o mineiro Márcio Pacheco, radicado no Rio há mais de 30
anos, proprietário do espaço.
O Beco do Rato está
envolto na atmosfera do samba até em sua decoração. Os postes de
luz no interior do bar e algumas cadeiras que lembram bancos de praça
fazem do local uma extensão da rua. “O samba era tocado nas ruas
no passado”, lembra Pacheco.
Nas paredes e teto há
pinturas de sambistas, paisagens do Rio antigo, e representações de
orixás e santos da cultura afro-brasileira. Os quadros são obra do
artista Ney, discípulo do pintor Di Cavalcanti (1897-1976), e
retratam em cores vivas a religiosidade e o clima boêmio que envolve
o samba.
Divulgação
Uma das pinturas mais
significativas é um bonde que tem entre os passageiros Beth
Carvalho, Moacyr Luz, Alcione e Dona Ivone Lara, entre outros. “Não
são simples pinturas. São quadros que retratam a verdade da minha
cultura e da minha religião”, enfatiza Pacheco.
Grupos como o
Exquadrilha da Fumaça, Marcos Azevedo + 5, Receita de Choro e Arruda
se revezam na programação musical do lugar, que tem rodas de samba
todas as terças e quintas-feiras. A partir de outubro também haverá
música às sextas-feiras e, todo o primeiro domingo do mês, uma
feijoada na parte da tarde, começando no próximo dia 6 de outubro.
Há algum tempo o
espaço chegou a abrigar sessões de cinema brasileiro com
curtas-metragens e filmes alternativos geralmente não exibidos no
circuito oficial, mas o projeto não teve fôlego para continuar.
“Não há incentivos por parte do poder público para projetos como
este. Infelizmente é difícil manter sem um investimento”, explica
Pacheco.
No entanto, o preço da
entrada cobrada dos visitantes, entre R$5 e R$10, torna o Beco do
Rato uma opção de samba popular para os apreciadores do estilo. O
apelo cultural do espaço resiste, mesmo em uma área que não recebe
tantos incentivos.
O nome
A história do nome do
botequim surgiu por acaso, conforme conta Márcio Pacheco. “Quando
alguém pedia informações sobre o samba de sexta-feira na Lapa o
povo dizia: 'desce lá, no beco do rato'. Fui pesquisar e descobri
que a malandragem que andava pela Lapa no passado vinha se esconder
aqui, na Joaquim Silva, quando arrumava alguma confusão”,
esclarece.
Com o Beco do Rato, o
local que antes era marginalizado, justamente por conta da falta de
estrutura, passou a ser valorizado. Mesmo com os problemas que ainda
existem, Pacheco acredita que o bar foi um dos fatores que ajudou na
retomada daquela região.
Serviço
Endereço: Rua Joaquim
Silva, 11, Lapa
Dias: Todas as terças,
quintas e sextas-feiras e primeiro domingo do mês.
Valor: entre R$5 e R$10
(couvert artístico)
Originalmente publicado no jornal Brasil de Fato, Edição 22
0 comentários:
Postar um comentário