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  1. Até que é bom

    25 de outubro de 2013

    Legião Urbana sempre foi a banda mais tocadas nas rodas de violão da minha adolescência. E, entre tantas outras, uma daquelas músicas da banda brasiliense sempre me intrigou pelo tema tão adulto tratado de forma tão simples. Não entendia como a vida funcionava, mesmo assim, imaginava que poderia ser como dizia aquela canção.

    Os versos de “O Mundo anda tão Complicado” soavam como um destino inevitável para mim. Eu que, mesmo sabendo da distância que me separava daquela sina derradeira, já vislumbrava um dia a vida de casado, esposa, filhos (quem sabe)...

    Acontece que o momento da música chegou pra mim, exatamente há duas semanas atrás, quando concretizei o sonho adolescente de construir uma família com a pessoa escolhida, que também me escolheu. Desde então, as coisas vem acontecendo um pouco como na música.

    Vê-la dormir que nem criança com a boca aberta. E vê-la acordar não tão arrumada, como quase sempre a via nos tempos de namoro, e mesmo assim achá-la linda (mesmo que ela duvide disso!).

    Deixei a segurança do meu mundo por amor. Ela deixou a segurança do mundo dela pelo mesmo motivo. Talvez isso explique a estranheza que tenho sentido nesses primeiros dias de vida juntos. Não uma estranheza ruim, apenas uma estranheza. Os amigos casados falam que é assim mesmo.

    Éramos dois em nossas individualidades, que às vezes se encontravam pra namorar. Agora somos dois tendo que dividir nossas individualidades, ceder em prol de objetivos comuns. Ainda que as individualidades continuem lá. Vi gestos de respeito a elas, por parte dos dois, nesses primeiros dias juntos, e espero que isso se mantenha assim.

    Até que é fácil acostumar-se um com o jeito do outro. Apesar de saber que o mundo anda tão complicado. Ainda mais morando em uma cidade grande. Longe da maioria dos amigos e da maioria da família.

    E como diz a música, a “mudança grande” tá chegando aos poucos. Além da grande mudança que é, simplesmente, casar-se. Terça-feira buscamos a televisão. Sexta chegou a máquina de lavar. Por enquanto, ainda precisamos dormir no chão, pelo menos até que termine a reforma que começamos faz alguns meses. Até que é bom!

    Escolhemos cor de tinta. Ela fez um pavê pra mim. Eu fiz um strogonoff pra ela. Fomos à casa dos amigos pra esquecer um pouco do trabalho, ficar de bate-papo. Ainda não dá pra fazer uma feijoada, mas prometemos em breve. Cheguei tarde do trabalho. Ela me esperou. Caminhamos no Flamengo. Compartilhamos carinho e rotinas.

    Até que é muito bom!



  2. Chegou

    11 de outubro de 2013

    Chegou pra nós o ponto que aponta pro futuro. Futuro junto, conjunto, adjunto. A sós, mas nunca sós. Sempre contidos em duas origens, nossas raízes, nossas matrizes. Chegou pra nós desconhecido, nunca vivido, muito querido. Chegou pra nós rastro de plenitude, nas atitudes de amar diário. Chegou pra nós, neguinha. Chegou pra nós!


  3. Beco do Rato promove rodas de samba desde 2005 em espaço cultural que reverencia a religiosidade afro-brasileira

    Em uma das regiões pouco atendidas em termos de políticas públicas do Rio de Janeiro, o Beco do Rato funciona, desde 2005, como um espaço cultural de promoção do samba e do choro, da história da cidade e das referências religiosas afro-brasileiras.

    Nas vizinhanças do bar, localizado entre as ruas Joaquim Silva e Moraes e Vale, na Lapa, os prédios antigos estão, em sua grande parte abandonados ou em péssimo estado de conservação. É neste cenário que o espaço cultural, charmoso nos detalhes, surge como mais uma opção para quem gosta de ouvir sambas de todas as épocas.

    “Antes do Beco do Rato, nesse pedaço moraram Chiquinha Gonzaga e Madame Satã. Também circulavam por aqui Manuel Bandeira, Noel Rosa, Sinhô e Portinari”, afirma o mineiro Márcio Pacheco, radicado no Rio há mais de 30 anos, proprietário do espaço.

    O Beco do Rato está envolto na atmosfera do samba até em sua decoração. Os postes de luz no interior do bar e algumas cadeiras que lembram bancos de praça fazem do local uma extensão da rua. “O samba era tocado nas ruas no passado”, lembra Pacheco.

    Nas paredes e teto há pinturas de sambistas, paisagens do Rio antigo, e representações de orixás e santos da cultura afro-brasileira. Os quadros são obra do artista Ney, discípulo do pintor Di Cavalcanti (1897-1976), e retratam em cores vivas a religiosidade e o clima boêmio que envolve o samba.

    Divulgação

    Uma das pinturas mais significativas é um bonde que tem entre os passageiros Beth Carvalho, Moacyr Luz, Alcione e Dona Ivone Lara, entre outros. “Não são simples pinturas. São quadros que retratam a verdade da minha cultura e da minha religião”, enfatiza Pacheco.

    Grupos como o Exquadrilha da Fumaça, Marcos Azevedo + 5, Receita de Choro e Arruda se revezam na programação musical do lugar, que tem rodas de samba todas as terças e quintas-feiras. A partir de outubro também haverá música às sextas-feiras e, todo o primeiro domingo do mês, uma feijoada na parte da tarde, começando no próximo dia 6 de outubro.

    Há algum tempo o espaço chegou a abrigar sessões de cinema brasileiro com curtas-metragens e filmes alternativos geralmente não exibidos no circuito oficial, mas o projeto não teve fôlego para continuar. “Não há incentivos por parte do poder público para projetos como este. Infelizmente é difícil manter sem um investimento”, explica Pacheco.

    No entanto, o preço da entrada cobrada dos visitantes, entre R$5 e R$10, torna o Beco do Rato uma opção de samba popular para os apreciadores do estilo. O apelo cultural do espaço resiste, mesmo em uma área que não recebe tantos incentivos.

    O nome

    A história do nome do botequim surgiu por acaso, conforme conta Márcio Pacheco. “Quando alguém pedia informações sobre o samba de sexta-feira na Lapa o povo dizia: 'desce lá, no beco do rato'. Fui pesquisar e descobri que a malandragem que andava pela Lapa no passado vinha se esconder aqui, na Joaquim Silva, quando arrumava alguma confusão”, esclarece.

    Com o Beco do Rato, o local que antes era marginalizado, justamente por conta da falta de estrutura, passou a ser valorizado. Mesmo com os problemas que ainda existem, Pacheco acredita que o bar foi um dos fatores que ajudou na retomada daquela região.

    Serviço

    Endereço: Rua Joaquim Silva, 11, Lapa

    Dias: Todas as terças, quintas e sextas-feiras e primeiro domingo do mês.

    Valor: entre R$5 e R$10 (couvert artístico)

    Originalmente publicado no jornal Brasil de Fato, Edição 22