Por aquele apartamento já passaram mestrandos em história,
concurseiros e micareteiros; socialistas, gays, lésbicas e simpatizantes,
tucanos da extrema direita e peladeiros; católicos fervorosos, católicos, espíritas, músicos e bailarinos; maconheiros,
loucos, amantes do samba e do rock; nerds, bêbados, engajados e alienados... Quantos rótulos!
Ele mesmo tenta entender, e a conclusão a que sempre chega é
a de que cabe dentro daquelas quatro paredes uma parte da diversidade do mundo,
talvez porque caiba na mente e no coração do anfitrião todo respeito a qualquer
diversidade.
Num determinado ponto de sua vida, ele chegou a conclusão de que valores e crenças que o afastavam das pessoas não valiam a pena. Valores e crenças que o estimulavam a prejulgar e condenar, mesmo sem intenção. Imaginava como poderia dizer que pessoas tão boas, que faziam pelo semelhante mais até do que ele com suas crenças e valores ditos "corretos", estariam excluídas.
Muitos se espantam e olham torto, com ar solene de preocupação. Deixam transparecer a veia do preconceito velado. Se esforçam por uma
complacência desnecessária. Condenam em pensamento, provavelmente. Mostram o
lado humano falho, que ele também possui. Segue sem importar com o que vão pensar.
Ali, naquele pequeno espaço, batem papo, bebem suco,
cerveja, falam sério, falam besteira e riem, debatem, discutem, se ajudam,
desabafam. Brigam? Quase nunca. Ouvem música, fazem comida, se preparam pro
carnaval. Aquele pequeno espaço, ali, virou, sem que ele quisesse ou esperasse, um reflexo de sua personalidade.
Não há fronteiras para o amor e amizade... naquele apartamento!