Não demonstrarei meus afetos displicentemente. Nem falarei o que penso quando acreditar ser importante. Não falarei sobre as notícias da revista de fofocas. Nem tampouco dos altos e baixos da economia e da política. Me calarei por discrição. Não deixarei tocar meu celular e nem falarei mais em reuniões quando achar necessário expor minha opinião. Mesmo assim, não emudecerei. Não. Não olharei com desejo salutar as belas moças que passam num doce balanço a caminho de qualquer lugar. Nem pra minha moça olharei com desejo verdadeiro e apaixonado. Nem cego serei. Ser romântico será proibido, e cético em relação aos meus sentimentos também o será. Negarei crer em Jesus, na Eucaristia ou em Nossa Senhora Maria. E fé na ciência, e todas as suas provas científicas, tampouco terei. Negarei todo sinal da cruz e ave-maria (pura superstição). E em todo avanço comprovado nas descobertas da evolução das espécies desacreditarei. Não enxergarei música. Nem escutarei a voz de Deus nas paisagens mais belas. Nem pensar. Não acolherei as pessoas que se aproximam de mim, pois elas podem não ser aquilo que eu penso. Independente de raça, credo, ou gênero dentre os diversos que existem, não as acolherei. Nem todas as pessoas são tão boas quanto eu cismo em notar que são. “E o mundo não é cor de rosa” (tentam sempre me convencer). Não terei convicção de mais nada. E nem tão pouco relativizarei. Não sonharei, pois quem sonha não pisa os pés firmes no chão da realidade. Nem à dura e cruel realidade me apegarei. Não serei eu: inquieto, contraditório. Uma negação de mim; niilista às avessas. Pois nem sei na verdade quem eu sou.
P.S.: A palavra “não” (advérbio de negação) tem a força de um verbo de ação. Daqueles que podem paralisar, fazer pensar, obstruir e até intensificar o desejo pelo proibido se transformando em afirmação. Desde pequenos ao ouvirmos da boca de nossos pais, o “não” tem a força de nos enquadrar naquilo que é socialmente aceito. É de fato importante para a educação. Mas o “não” sem reflexão se torna uma imposição acéfala a qual respondemos automaticamente.
*Ouvindo “Eu não sei na verdade quem eu sou” (Fernando Anitelli - O Teatro Mágico) e “Garota de Ipanema” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)
Postado por
Unknown
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05:27
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Excelente texto!