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  1. Grupo, que completou cinco anos no último fim de semana com sua já tradicional roda de samba, usou financiamento coletivo para gravar álbum

    Não fosse a falta do bonde, a ida ao bairro de Santa Teresa seria uma viagem completa no tempo. A antiguidade do cenário e de boa parte do repertório tocado na roda de samba do Mercado das Pulgas, no Largo dos Guimarães, se mistura ao jovem público e à originalidade do grupo condutor da roda, o Sambalangandã, que comemorou cinco anos de estrada no último sábado.

    O presente quem ganhou foi o público, que ouviu sambas selecionados em seus mais diferentes ritmos. Esta seleção criteriosa virou marca do Sambalangandã, já que o grupo tenta fugir do repertório mais usual.

    "Gostamos de descobrir músicas diferentes nos repertórios de sambistas renomados ou não. Tentamos sempre mesclar essas canções 'lado B' com outras mais conhecidas, e o público daqui é atento e gosta de experimentar", afirma o violinista Lúcio Rodrigues.


    Este público, formado em sua maior parte por jovens, não teria idade para saber ao pé da letra todas as músicas tocadas, mas aprendeu a gostar de samba no recente movimento de retomada do estilo na última década.

    Ijexá, jongo, samba canção, samba de breque, afrosamba e partido alto são alguns dos estilos levados pelo grupo nascido exatamente ali, no Largo considerado o coração de Santa Teresa, na roda que já se tornou uma referência.

    O samba começou ao cair da tarde, ao pé da árvore, no quintal de um antigo casarão, onde projetos culturais diversos se revezam ao longo do ano. Aulas de capoeira, dança, feira de antiguidades e um sebo de livros são algumas das atrações do Mercado das Pulgas.


    E o Sambalangandã tem seu espaço fixo na programação, todo o primeiro e terceiro sábados do mês, à partir das 19 horas. A roda já é inclusive, parte integrante do roteiro oficial do evento Santa Teresa de Portas Abertas.

    Mas nem sempre foi assim. A história do grupo, que antes não tinha esse nome percussivo, se confunde com o início da roda de samba no local.

    "Revezávamos com outro grupo a cada quinze dias. Lembro que 20 pessoas estavam presentes na primeira roda que fizemos. Era conhecido como 'samba do chapéu', pois ao final passávamos o chapéu recolhendo doações de quem vinha sambar", relembra o músico André Jamaica, um dos precursores da roda.

    Naquele sábado de celebração para o Sambalangandã, as lembranças deram o tom da apresentação. As dificuldades foram muitas, como gostam de relembrar os músicos, mas ao mesmo tempo o bom humor característico do samba fez com que todas elas fossem superadas.

    "Lembro que, até conseguirmos um violinista fixo, tínhamos que convencer amigos músicos a virem tocar. Em um carnaval, há alguns anos, o violinista que tínhamos contratado se acabou de beber antes da roda. Tivemos que ir correndo buscar um outro músico que estava no bloco Carioca da Gema fantasiado com um vestido de mulher", ri o músico Chico Alves outro dos puxadores da roda.

    O grupo se firmou e ganhou a alcunha sonora que hoje já é reconhecida entre os sambistas. Bira da Vila, Toninho Geraes, Moises Marques e Eugênia Rodrigues são alguns dos nomes que frequentam a roda. Atualmente, de forma rotativa, mais de 600 pessoas passam pela roda.

    A formação do Sambalangandã, que se consolidou há cerca de três anos, tem os músicos Lucio Rodrigues, violão 7 cordas, Andre Jamaica e Chico Alves, nas vozes, Fabricio Pinas, cavaco, Leo Careca, percussão, Vitor Oliveira, pandeiro e Edgar Araujo, no surdo.



    Primeiro CD é autoral e cheio de participações

    Agora, depois de anos de muitas histórias, o grupo se prepara para lançar o primeiro CD, com sambas de levada mais tradicional. No entanto, sua produção é fruto de uma técnica bem moderna de capitação de recursos: o financiamento coletivo pela internet.

    A divulgação da 'vaquinha virtual' era feita ali mesmo na roda de samba. Depois o boca-boca se estendia aos amigos dos amigos, até que o grupo conseguiu o montante necessário para a realização do trabalho. O álbum, intitulado Fuzuê, está em fase de mixagem e masterização e deve ser lançado em breve.

    O repertórioChico Alves, principal compositor das canções que integram o disco. Outros integrantes do grupo que se arriscam na composição são André Jamaica, Edgar Araujo e Fabricio Pinas.

    Entre as composições de Chico Alves presentes no CD, está 'Caninâna', parceria com Marco Pinheiro, já cantada de cor pelo público da roda. Outra canção, o partido alto 'Longa espera', é de co-autoria de Zorba Devagar, compositor já gravado por Paulinho da Viola, entre outros.

    Há ainda no disco, as participações dos cantores Andreia Dutra, Simone Leal e Ronaldo Gonçalves e dos instrumentistas Rafael Malmite, Glauber Seixas, Fernando Guedes.

    Serviço

    Roda de Samba do Mercado das Pulgas
    Quem toca: Sambalangandã
    Local: Largo dos Guimarães, Santa Teresa
    Preço: R$ 10
    Horário: das 19h à meia-noite

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    *Originalmente publicada na edição 27 do jornal Brasil de Fato, em 7 de novembro de 2013