Como bem escreveu Daniel Brazil em artigo publicado na
eletrônica
Revista Música Brasileira, dá pra encher um pen drive com gente
talentosa entre os novos músicos da nossa MPB. Dá pra encher outro com músicos
e bandas sem muito a acrescentar, mas sobre esses não vale a pena escrever uma linha sequer, apesar de ter perdido algum tempo ouvindo neste ano de 2012. É
que falam tanto da “nova cena” e colocam todos em um patamar “indie” de “música
boa” que acabo ficando curioso. Concordo com o senso comum que diz “música é
gosto”, e por isso, pro meu gosto tem muita coisa sem relevância que veio pra passar,
não pra ficar.
É por isso também que nunca deixo de lado as obras musicais antigas,
aquelas que já ficaram, deixaram sua marca inconfundível na música brasileira
e influenciaram gerações. Gente muito boa que, por não ter sido eu
contemporâneo de seu surgimento no cenário musical, acabei perdendo, e por isso
“corro atrás” por gostar de música. Dos que vieram pra ficar ou já ficaram (na
minha opinião de ouvinte atento), fiz uma lista com aqueles que descobri em
2012, em trabalhos novos ou antigos, mas que embalaram meus ouvidos ao longo
do ano.
Tulipa Ruiz – “Tudo tanto” é o nome do segundo álbum dessa
promissora cantora (e desenhista) que emprega em sua voz e interpretação um tom
lírico, mas ao mesmo tempo contemporâneo. Foi primeiramente lendo notícias sobre este,
de 2012, que cheguei ao álbum de estreia da artista “Efêmera”, de 2010, que
trás tesouros como a faixa título, ou a viciante e pop “Às vezes”. O disco novo,
mais experimental que o primeiro, também “É” “Ok” (pra citar duas de suas
melhores faixas), apesar de menos palatável.
Thaís Gulin – Das muitas cantoras que aparecem todos os
anos, nem todas coloco num patamar que considero “bom”. Entre as que valem a
pena ouvir de perto, está Thaís Gulin, que alguns preconceituosos estão
achincalhando pelo simples fato de ser “a namorada de Chico Buarque”. Seu som
que mistura várias sonoridades e estilos musicais é original. Ela mereceu o título
de “musa” do mestre Chico, não apenas pelos seus dotes físicos, mas sobretudo
pelo talento evidente. O álbum de estréia “ôÔÔôÔÔôô” é boa MPB do início ao fim.
Chico Buarque – Entre os vários artistas citados nesta lista,
muitos deles são declaradamente influenciados por este poeta, escritor, cantor,
compositor e “peladeiro”. Apesar de conhecer muitas de suas músicas (quem não
conhece pelo menos uma), nunca tinha me dedicado tanto em ouvir sua obra.
Redescobrir Chico Buarque foi prazeroso. A começar pelos seus sambas, os quais
compõe com maestria, passando por álbuns mais recentes como “Chico” e “Carioca”,
entre outros, fiquei impressionado em ouvi-lo dividindo o microfone com Caetano
Veloso, no álbum “Juntos e Ao Vivo” de 1972.
A Tribute to Caetano Veloso – Por falar no tropicalista, um
dos melhores álbuns de 2012 foi a coletânea da Universal Music em comemoração
aos seus 70 anos de idade completados este ano. Artistas brasileiros e de
outros países como Marcelo Camelo, Jorge Drexler, Miguel Poveda, Seu Jorge e
Beck, se uniram para cantar alguns clássicos e vários “lados B” de Caetano. É
um disco pra redescobrir parte da vasta obra do cantor em interpretações e
arranjos bem diferentes dos originais. Destaque para “London, London”, a música
do exílio, com os Mutantes, “You Don’t Know Me”, com o grupo britânico The
Magic Numbers, e a contagiante versão de Céu para “Eclipse Oculto”.
Emerson Leal – Não parou de tocar no meu som nesses últimos
meses do ano o álbum desse cantor de Salvador. “Emerson Leal é o nome dele”,
disse Chico Buarque há um ano atrás sobre o cantor, prenunciando o lançamento
de um álbum de estreia cheio de pérolas musicais. Repito “(o que é que te deu) De
repente” algumas vezes quando ouço o disco, que traz composições em parceria com
Tom Zé (“Círculo”) e Luiz Tatit (“Das dores e das flores” e “Coisa Perene”).
Paulinho da Viola – Foi no primeiro dia do ano de 2012 que
copiei pro meu pen drive parte da obra desse grande nome do samba brasileiro. Um
amigo me passou, e passei o ano entre “Coração Leviano”, “Para ver as meninas”,
“Onde a dor não tem razão”, “Coração da gente”,... Não é atoa que o compositor
de “Foi um rio que passou em minha vida” é um dos preferidos dos novos cantores
de samba Brasil afora.
Céu – Confesso que não conseguia ouvir um CD inteiro de Céu (há músicas muito experimentais pro meu gosto). Mas é dela a voz que sempre considerei a mais original entre as cantoras da nova safra da MPB – não encontrei ninguém que soasse parecido. Pra ouví-la sempre pegava as mais sonoras de cada um dos discos da cantora e misturava em uma pasta do pendrive, pra ouvir no carro. Sempre estiveram lá “10 contados”, “Malemolência”, “Vira-Lata”, “Bubuia”, “Samba na Sola”, entre outras. Com o CD novo, "Caravana Sereia Bloom", a coisa mudou. A moça encontrou o tom e fez, sem dúvida, o seu melhor trabalho até aqui. Destaque para todas as canções!
O Baile do Simonal – Contagiante do início ao fim, o álbum de
2011 realizado por Max de Castro e Simoninha, filhos de Wilson Simonal, foi sem
dúvidas o mais tocado este ano no meu "radinho". Os arranjos dançantes que
abusam dos naipes de metal dão o tom à merecida homenagem ao controverso
artista. Se revezam no palco, além dos filhos do cantor, Seu Jorge, Péricles e
Thiaguinho, Maria Rita, Frejat, Diogo Nogueira, Martinália, Caetano Veloso,
Fernanda Abreu, Lulu Santos e Marcelo D2, entre outros. “Champignon com caviar”
à moda brasileira!
Mallu Magalhães – Há um ano atrás não cogitaria colocar
Mallu Magalhães em nenhuma lista de melhores músicas que eu fizesse. Mas aí veio o álbum Pitanga,
lançado no final de 2011, uma mostra do amadurecimento da cantora. Costumava
dizer que a música de Mallu era “chatinha”. A influência do marido, Marcelo
Camelo, que produziu o álbum, deve ter sido decisiva para este salto de
qualidade na música da cantora. Ficou mais brasileiro, mais melódico, com
influências de samba, bossa, porém não descaracterizou as referências de Mallu
Magalhães, do folk e do country americanos.
Maglore – Também de Salvador vem o exemplar ‘rock’ da minha lista. Conheci só agora o álbum “Veroz” lançado em 2011 pela banda de pegada
BritRock e referências de MPB. Chegou aos meus ouvidos pelo poderoso “boca-boca” da internet e
ficou entre as minhas preferências. Destaque para as canções “À vezes um clichê”,
“Despedida”, “Enquanto sós” e “Pai mundo” (esta, uma mistura de rock e samba-marchinha
ao bom estilo Los Hermanos).