Alguns artistas da música conseguiram a façanha de se tornar
eternos, ultrapassando barreiras como o tempo e até mesmo a morte. A ida à carinhosa
exposição Viva Elis, em passagem pelo Centro Cultural Banco do Brasil, no centro
do Rio de Janeiro, no último domingo, me atestou aquilo que eu já suspeitava. A
obra de Elis Regina tem essa estranha força de encantar mesmo gerações de
pessoas que nunca a viram num palco, que não estavam lá nos lançamentos de seus
discos e especiais de TV.
Arte: Sidney Falcão
Ver crianças de 9, 10 anos balançando as cabeças ao colocar
um fone de ouvido e escutar músicas e entrevistas de Elis, assim como nossos
pais anos atrás, imersas e atentas, é realmente curioso. Representantes desta
nova geração acostumada a ouvir cantoras, brasileiras ou não, com impostações
de voz à moda “american diva” e suas batidas extremamente eletrônicas, estavam
ali se deliciando ao som de originais interpretações viscerais e emocionadas da
Pimentinha (um dos apelidos de Elis).
E eu também, que nasci um ano e meio depois de sua súbita
morte, estava ali envolvido com projeções em telões de alta resolução, sons
remasterizados e gravações originais de uma época que não vivi, mas que me remetiam
a um sentimento incoerente de nostalgia. Mas saudade de algo que não vivi?
Talvez tenhamos herdado de nossos pais essa estranha mania
de gostar de Elis. Talvez o culto à sua obra foi, sim, transmitido a nós por
pessoas que estavam lá, sobretudo pela mídia que, neste caso, soube de alguma
forma valorizar e perpetuar o talento dessa grande artista. Talvez a marcante presença de uma “herdeira” do talento de Elis, sua filha e também cantora Maria Rita,
tenha despertado o interesse das novas gerações por sua obra.
Talvez estas sejam respostas possíveis à minha indagação, porém
nenhuma delas é completa. Basta um olhar sobre o cenário musical pra constatar,
por exemplo, tantos talentosos filhos de notáveis artistas da música brasileira
que tentam levar a obra dos pais às novas gerações e não têm êxito. Basta
reconhecer artistas que, apesar de toda mídia em torno de suas memórias
musicais, não ultrapassam a barreira da simples memória. Basta olhar a
prateleira de vinis de nossos pais e avós pra ver que tanta gente que eles
gostam não passam de “música velha” pra nós, os filhos e netos.
A obra de Elis, porém, é extremamente viva, como o proposital nome
do projeto que está levando exposições e shows sobre a artista para os cinco
cantos do Brasil. Suas interpretações cheias de teatralidade e, ao mesmo tempo,
verdade conseguem falar a todos, pois tocam em temas universais e permanentes.
A qualidade musical dos parceiros que escolheu, de músicos e seus arranjos a
compositores e suas poesias, agrada aos ouvidos, sem distinção.
Foto: Andre Stolarski (flickr)
A melhor definição para a comoção causada por Elis Regina e sua música saiu de forma simples da boca da minha boa companhia à exposição, minha
noiva. Disse, quando saíamos da última sala que visitamos – onde tivemos acesso
à uma playlist interativa da qual podíamos ouvir as gravações de qualquer disco
da cantora e ainda ler informações de encartes e matérias jornalísticas:
- Se desse a gente não saía mais daqui, né? - Elis não saiu...
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