Tem muito mais, eu sei...
22 de dezembro de 2013
16 de dezembro de 2013
Os trilhos que levam ao samba*
ENCONTRO Proposta do Trem do Samba foi recriar memória de resistência da
música brasileira
Velha Guarda da Império Serrano em um dos vagões do Trem do Samba
O subúrbio acolheu de braços abertos aqueles que trilharam, no último sábado, vindos de todas as partes da cidade e até de outras cidades do Brasil e do mundo, o trajeto do Trem do Samba.
O festival de grandes proporções, em que se transformou a festa do Dia
Nacional do Samba (2 de dezembro), parecia promover uma espécie de
reconciliação entre os bairros do Rio.
Cinco trens lotados saíram da Central do Brasil com destino a Oswaldo
Cruz, com rodas de samba em cada vagão. O bairro, povoado em grande parte, no
início do século passado, por aqueles que foram removidos à força pelas
reformas sanitaristas, foi o palco para esse encontro que o samba mais uma vez
foi capaz de promover.
"O Trem do Samba representa o recriar de uma celebração, de uma
memória de resistência da música brasileira", afirma Marquinhos Oswaldo
Cruz, o sambista que, em 1991, refez a viagem de trem que deu origem ao
festival.
A releitura da viagem que Paulo da Portela fazia, no início do século
passado, para fugir da repressão ao samba, ganhou contornos de festa popular.
"A mesma polícia que antes perseguia o samba, hoje abre alas pra
ele passar. O samba nunca foi de arruaça, como dizia Carlos Cachaça. Era a
alegria do povo na praça Onze, uma manifestação da cultura popular, sincera,
honesta", ressalta Monarco, da Velha Guarda da Portela, escola de samba
que surgiu entre Oswaldo Cruz e Madureira.
Sambista representante de outra escola de samba da região - a Império
Serrano -, Aluízio Machado também destacou o caráter democrático do evento.
"Hoje o samba pode dizer que tem uma festa democrática, que todo mundo
acompanha junto, sem distinção", pontua.
No evento, shows simultâneos faziam com que o público estimado em mais
de 60 mil pessoas, somente naquele dia, pudesse aproveitar as mais de 50
atrações musicais. Na comparação bem humorada com outros festivais de música
que acontecem na cidade, o 'Rock in Rio do samba' não deixou a desejar nos
quesitos evolução e harmonia, e mostrou, com desenvoltura, o jeito brasileiro
de festejar.
Paulinho da Viola: 'Ninguém controla a força que o samba tem'
Músico que tem sua trajetória relacionada à das escolas de samba de
Oswaldo Cruz e Madureira, Paulinho da Viola foi uma das atrações do Trem do
Samba. Seu show, no palco João da Gente, um dos sete montados, encerrou o
festival que já acontecia desde a segunda-feira.
Paulinho da Viola destacou a iniciativa de comemorar o Dia do Samba com
uma grande festa. "Durante muito tempo era uma data conhecida. Algumas
pessoas se reuniam em suas escolas, mas não havia um evento aberto, maior, que
levasse a data para um número maior de pessoas", afirmou, celebrando o que
chamou de a grande estrela do evento: o samba.
Para o cantor e compositor, a manifestação cultural tem força própria e consegue
levar o nome do Brasil para o mundo. "Ao longo do tempo, muitos já
disseram que acabaria, que não fazia sentido. Mas o samba já foi para o mundo.
Visitar, por exemplo, o Japão e ver que há escolas de samba com pessoas de lá
tocando, mostra que essa coisa do povo da gente tem uma força que ninguém
controla", enaltece.
*Publicado no jornal Brasil de Fato
9 de dezembro de 2013
Nova geração de sambistas homenageia Delcio Carvalho*
REVERÊNCIA Conhecido por canções como "Sonho Meu", compositor morreu na última semana aos 74 anos
Quando, nos anos de 1970, Delcio Carvalho escreveu os versos de "derradeira Melodia", em referência ao falecimento de outro sambista, não imaginava que seria, ele próprio, homenageado por músicos das mais diferentes gerações no momento de sua morte. A canção de versos como "E o sambista assim tombou / Causando tanta emoção/Mas sua arte há de ficar de pé/dentro do nosso coração" é apenas uma das quase 300 que compôs em sua carreira.
O compositor morreu na terça-feira (12), aos 74 anos, de um câncer gástrico diagnosticado há três anos. A música que ele fez para o sambista Silas de Oliveira, morto em 1972, foi uma das primeiras de suas muitas parcerias com Dona Ivone Lara. Com ela, Delcio Carvalho também escreveu, entre outras, "Acreditar", "Sonho Meu" e "Alvorecer".
O compositor Marco Pinheiro, parceiro de Delcio, afirma que ele está entre os principais ícones do samba, embora também compusesse outros gêneros.
"Mesmo antes de sua morte, o Delcio já inspirava os novos compositores que desejavam e desejam fazer samba com qualidade. Suas composições são daquelas que ficam para sempre", afirma.
Entre os sambistas da nova geração, o compositor é uma referência. Um desses admiradores, o músico Chico Alves, do grupo Sambalangandã, diz que a obra de Delcio será imortalizada.
"Tem uma frase que ele sempre dizia, depois de se apresentar e ser aplaudido, que sintetiza tudo isso: 'Como vocês podem ver, não há truque", lembra.
Rodas relembram extenso repertório
HOMENAGEM Sambalangandã e Roda de Samba do Barão reverenciam músico
Na quarta-feira (13), no bar Trapiche Gamboa, na zona portuária do Rio, o grupo Sambalangandã dedicou todo um set de sua apresentação a canções de Delcio Carvalho, como "Nasci pra sonhar e cantar" (com Dona Ivone Lara), "Convite" (com Ivor Lancellotti), "Vendaval da vida" (com Noca da Portela). O grupo repetiu a homenagem na roda de samba do Mercado das Pulgas, no sábado (16), em Santa Teresa.
Em Vila isabel, as canções de Delcio também serão lembradas. O violinista Marcelo Moraes, do Movimento Cultural Roda de Samba do Barão, que acontece às quartas-feiras, na Praça Barão de Drumond, afirma que o compositor será homenageado durante o mês de dezembro. Isto porque, todos
os anos, os sambas do último mês do ano são dedicados àqueles que morreram durante o ano.
"Delcio Carvalho foi um dos artistas que pavimentou o caminho que a música brasileira deveria seguir. onde
se valorizava a postura artística, e não apenas o reconhecimento e a fama. Era um gênio, nos melhores sentidos desta palavra.", resume Marcelo Moraes.
Sambista tinha a composição como ofício
PROFISSÃO COMPOSITOR Suas músicas foram gravadas por Martinho da Vila, Beth Carvalho e Alcione, entre outros
Filho de pai saxofonista, Delcio Carvalho trazia no sangue o DNA musical. Nasceu em Campos dos Goytacazes, em março de 1939, e cresceu ouvindo os cantores e cantoras da era áurea do rádio.
Veio para o Rio de Janeiro depois de prestar o serviço militar, em 1956, para morar no Morro do Querosene, na zona norte. Participou de programas de calouros e cantava em casas noturnas do Rio. A canção "Pingo de felicidade", de 1968, foi sua primeira composição, logo gravada pela cantora Christine.
A composição era seu ofício. Marco Pinheiro, um dos mais recentes parceiros de Carvalho, lembra como foi a criação do choro "Ah! Quem me dera".
"Tinha passado para ele a melodia. Um dia ele apareceu com um papel tipo de pão com a letra. Só que uma parte estava em cima, a outra no parte de trás do papel, outra de cabeça para baixo. Só depois que passou a limpo é que a gente pôde ver como tinha ficado".
Em 1979, Delcio gravou seu primeiro álbum, "Canto de um povo". o segundo, "Afinal", só saiu em 1996, seguido de "A Lua e o Conhaque" (2000), "Profissão Compositor" (2006) e a trilogia "Inédito e Eterno"2007). Em 2013 gravou seu último Cd "Dois compassos", em parceria com o violonista Marcelo Guima.
Suas músicas foram gravadas por Maria Bethânia, Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Roberto Ribeiro, Elizeth Cardoso, Caetano Veloso, Nana Caymmi, Gal Costa, Elza Soares, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Alcione, entre outros.
*Publicada na edição de 21 de Novembro do jornal Brasil de Fato. Extemporânea porque ainda não havia baixado a versão publicada. Uma homenagem oportuna a este que é um dos maiores compositores do samba.
Quando, nos anos de 1970, Delcio Carvalho escreveu os versos de "derradeira Melodia", em referência ao falecimento de outro sambista, não imaginava que seria, ele próprio, homenageado por músicos das mais diferentes gerações no momento de sua morte. A canção de versos como "E o sambista assim tombou / Causando tanta emoção/Mas sua arte há de ficar de pé/dentro do nosso coração" é apenas uma das quase 300 que compôs em sua carreira.
O compositor morreu na terça-feira (12), aos 74 anos, de um câncer gástrico diagnosticado há três anos. A música que ele fez para o sambista Silas de Oliveira, morto em 1972, foi uma das primeiras de suas muitas parcerias com Dona Ivone Lara. Com ela, Delcio Carvalho também escreveu, entre outras, "Acreditar", "Sonho Meu" e "Alvorecer".
O compositor Marco Pinheiro, parceiro de Delcio, afirma que ele está entre os principais ícones do samba, embora também compusesse outros gêneros.
"Mesmo antes de sua morte, o Delcio já inspirava os novos compositores que desejavam e desejam fazer samba com qualidade. Suas composições são daquelas que ficam para sempre", afirma.
Entre os sambistas da nova geração, o compositor é uma referência. Um desses admiradores, o músico Chico Alves, do grupo Sambalangandã, diz que a obra de Delcio será imortalizada.
"Tem uma frase que ele sempre dizia, depois de se apresentar e ser aplaudido, que sintetiza tudo isso: 'Como vocês podem ver, não há truque", lembra.
Rodas relembram extenso repertório
HOMENAGEM Sambalangandã e Roda de Samba do Barão reverenciam músico
Na quarta-feira (13), no bar Trapiche Gamboa, na zona portuária do Rio, o grupo Sambalangandã dedicou todo um set de sua apresentação a canções de Delcio Carvalho, como "Nasci pra sonhar e cantar" (com Dona Ivone Lara), "Convite" (com Ivor Lancellotti), "Vendaval da vida" (com Noca da Portela). O grupo repetiu a homenagem na roda de samba do Mercado das Pulgas, no sábado (16), em Santa Teresa.
Em Vila isabel, as canções de Delcio também serão lembradas. O violinista Marcelo Moraes, do Movimento Cultural Roda de Samba do Barão, que acontece às quartas-feiras, na Praça Barão de Drumond, afirma que o compositor será homenageado durante o mês de dezembro. Isto porque, todos
os anos, os sambas do último mês do ano são dedicados àqueles que morreram durante o ano.
"Delcio Carvalho foi um dos artistas que pavimentou o caminho que a música brasileira deveria seguir. onde
se valorizava a postura artística, e não apenas o reconhecimento e a fama. Era um gênio, nos melhores sentidos desta palavra.", resume Marcelo Moraes.
Sambista tinha a composição como ofício
PROFISSÃO COMPOSITOR Suas músicas foram gravadas por Martinho da Vila, Beth Carvalho e Alcione, entre outros
Filho de pai saxofonista, Delcio Carvalho trazia no sangue o DNA musical. Nasceu em Campos dos Goytacazes, em março de 1939, e cresceu ouvindo os cantores e cantoras da era áurea do rádio.
Veio para o Rio de Janeiro depois de prestar o serviço militar, em 1956, para morar no Morro do Querosene, na zona norte. Participou de programas de calouros e cantava em casas noturnas do Rio. A canção "Pingo de felicidade", de 1968, foi sua primeira composição, logo gravada pela cantora Christine.
A composição era seu ofício. Marco Pinheiro, um dos mais recentes parceiros de Carvalho, lembra como foi a criação do choro "Ah! Quem me dera".
"Tinha passado para ele a melodia. Um dia ele apareceu com um papel tipo de pão com a letra. Só que uma parte estava em cima, a outra no parte de trás do papel, outra de cabeça para baixo. Só depois que passou a limpo é que a gente pôde ver como tinha ficado".
Em 1979, Delcio gravou seu primeiro álbum, "Canto de um povo". o segundo, "Afinal", só saiu em 1996, seguido de "A Lua e o Conhaque" (2000), "Profissão Compositor" (2006) e a trilogia "Inédito e Eterno"2007). Em 2013 gravou seu último Cd "Dois compassos", em parceria com o violonista Marcelo Guima.
Suas músicas foram gravadas por Maria Bethânia, Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Roberto Ribeiro, Elizeth Cardoso, Caetano Veloso, Nana Caymmi, Gal Costa, Elza Soares, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Alcione, entre outros.
*Publicada na edição de 21 de Novembro do jornal Brasil de Fato. Extemporânea porque ainda não havia baixado a versão publicada. Uma homenagem oportuna a este que é um dos maiores compositores do samba.
5 de dezembro de 2013
Carioca vai de trem comemorar o Dia do Samba*
BAMBAS Comemoração se estende até sábado, quando saem os trens da Central do
Brasil com destino a Oswaldo Cruz
A semana é de celebração para o samba. Desde a segunda-feira, dia 2 de
dezembro, quando é comemorado o Dia Nacional do Samba, o bairro de Oswaldo
Cruz, na zona Norte do Rio de Janeiro, virou o destino do mais genuinamente
brasileiro estilo musical. A extensa programação do Trem do Samba vai até o
sábado, dia 7, com shows de "bambas", rodas de samba, e apresentações
de agremiações carnavalescas.
Este ano, os trens especiais saem no último dia do evento com destino ao
reduto do samba, momento considerado o auge da festa. Quatro trens e 32 carros
da SuperVia estão reservados para levar o público ao bairro. Em sua 18ª edição,
o Trem do Samba deve reunir mais de 400 mil pessoas.
"São mais de 50 shows gratuitos num evento que pretende fazer as
pessoas entrarem em contato com a ancestralidade, esta essência cultural que
faz parte do repertório de todo brasileiro", afirma Marquinhos Oswaldo
Cruz, sambista idealizador do Trem do Samba.
A programação começa às 15 horas no sábado, com as apresentações da
Velha Guarda das escolas de samba Mangueira, Salgueiro e Vila Isabel. Lá os
passageiros poderão trocar sua passagem por um quilo de alimento não perecível
e seguir destino à Zona Norte, onde os shows e rodas de samba acontecem.
A semana começou com um "flashmob" na Central do Brasil, que
serviu como convite para que o carioca embarcasse no trem, na segunda-feira.
Dançarinos caracterizavam algumas das facetas dos cariocas: um servidor da
Comlurb, um bombeiro, um malandro, uma passista, entre outros. Eles mobilizaram
muitos dos passageiros que estavam na Central para sambar.
No mesmo dia, aconteceu o lançamento da música "2 de
Dezembro", de Marquinhos Oswaldo Cruz e Serginho Procópio, uma alusão à
data, cuja comemoração teve origem na Bahia. O dia em que é rememorada a
primeira visita de Ary Barroso à Salvador, foi nacionalizado e hoje é celebrado
em todo o país.
Em Oswaldo Cruz, a semana começou com shows de Almir Guineto, Leandro
Fregonesi e Rodrigo Carvalho, no palco que leva o nome do sambista Candeia. A
programação terá, até sábado, shows de Jorge Aragão, Martnália, Ana Costa,
Sombrinha, Casuarina, Dona Ivone Lara, Arlindo Cruz, Moacyr Luz e Paulinho da
Viola, entre outros.
Fotos: Divulgação
Aplicativo para celular com programação do Trem do Samba
TENDA DO SABER Filmes e palestras sobre cultura negra
Em que pese a tradição a que o samba remete, a modernidade também está
presente no Trem do Samba. Este ano, os usuários de smartphones com sistema
operacional iOS e Android poderão fazer download gratuito do aplicativo
iTremdoSamba que servirá como guia de bolso do projeto.
Entre as funcionalidades do aplicativo estão a possibilidade do usuário
definir sua agenda com a seleção de shows favoritos, o mapa de Oswaldo Cruz por
pontos de interesse entre palcos, rodas de samba e Tenda do Saber e a
possibilidade de compartilhar fotos e comentários via redes sociais Facebook e
Twitter.
Outra novidade é a Tenda do Saber que, durante a semana toda, levará
filmes e palestras sobre o gênero musical e a cultura negra brasileira. A
programação de todos os palcos, rodas de samba e vagões do Trem do Samba está
disponível no site www.tremdosamba.com.
Marquinhos Oswaldo Cruz refaz viagem de Paulo da Portela
ROTA DE FUGA Samba era perseguido no início do século XX
A primeira viagem, do que hoje se conhece como o Trem do Samba,
aconteceu em 1991, ainda com o nome de Pagode do Trem. Foi Marquinhos Oswaldo
Cruz, por influência da convivência com sambistas como Manacéia e Argemiro, da
Portela, que resolveu fazer a viagem de trem que hoje se tornou um dos maiores
festivais populares do país.
"A idéia inicial era chamar a atenção da população de Oswaldo Cruz
para a riqueza cultural daquele bairro. É um patrimônio formado há séculos que
não pode se perder", enfatiza o músico.
Sem querer ele acabou reproduzindo os passos de Paulo Benjamin de
Oliveira, mais conhecido como Paulo da Portela que, no início do século XX, começou
a tradição do samba nas viagens de trem. O sambista, que é um dos fundadores da
escola de samba Portela, utilizava os trens como estratégia para escapar da
perseguição que sofria esta manifestação cultural à época.
Serviço
Trem do Samba
Local: Central do Brasil
Quanto: Um quilo de alimento não perecível
Quando: Até sábado
*Publicada no jornal Brasil de Fato, Edição de 5 a 11 de Dezembro de 2013.
*Publicada no jornal Brasil de Fato, Edição de 5 a 11 de Dezembro de 2013.