A cena que escolhi dessa vez faz parte do filme 500 dias com ela: a história de um cara inseguro e apaixonado, que encontra uma namorada filha da puta. Ela ilude esse cara, dando esperanças falsas, que ele, mais idiota impossível, acolhe como se fossem verdade. É uma temática muito adolescente, verdade, mas contada de forma inteligente, em um roteiro divertido e dinâmico. Quem foi o cara que nunca passou por essas e outras na vida? E agora olha pra trás e ri da situação ("Como eu pude ser tão mané?"). No trecho, embalado por música da Regina Spektor, duas situações: a expectativa do cara que foi convidado para o aniversário da agora ex-namorada e é recebido com beijos, bebidas e papo animado vs. a realidade de ver que a fila já tinha andado e a ex, insensível, achou que o cara ia ser o "amiguinho" a comemorar o novo namorado. No início das cenas, há uma metáfora inteligente sobre a qual depois vai se desenrolar todo o trecho: no quadro que equivale à expectativa, o moço aparece descendo às escadas para a casa da moça; no quadro "realidade" ele precisa subir esta escada.Vale dar uma olhada no filme.
22 de novembro de 2012
9 de novembro de 2012
Sobre monumentos e simbolismos – Memorial 09 de Novembro
Um monumento é apenas um monumento?
Em seu estudo sobre Monumento, política e espaço, Roberto
Lobato Corrêa afirma que os monumentos não são apenas objetos estéticos, mas de
certa forma, intencionalmente dotados de sentido político. Como “representações
materiais de eventos passados” eles carregam simbologias que vão além do
concreto e armações metálicas de que são fabricados, e neles estão concentrados
sentidos que comunicam interpretações da realidade, sob um ponto de vista temporal.
Para o município de Volta Redonda (RJ) um monumento
específico, o Memorial 9 de Novembro, do arquiteto Oscar Niemeyer, carrega não
apenas a memória de uma tragédia, um trauma pelo qual toda a cidade foi
obrigada a passar por conta de decisões políticas autoritárias e equivocadas, mas
sobretudo a representação simbólica de um momento marcante e decisivo para o
Brasil.

Mesmo com o fim da Ditadura Militar no início dos anos 1980,
o Exército, sob o comando do general José Luiz Lopes, foi autorizado pelo então
presidente José Sarney a invadir a usina. Era o sinal mais evidente de resquícios
do autoritarismo no governo e, certamente, prova de que a influência militar nas
decisões do país não havia cessado (como sabemos, o fim da Ditadura foi fruto de
um acordo entre os ‘cabeças’ da política nacional mais do que de pressões
sociais como as Diretas Já, entre outros movimentos).
Com a autorização do presidente, no dia 09 de Novembro, soldados
do Exército de Valença e Petrópolis e do Batalhão de Choque da Polícia Militar
dispersaram uma manifestação pública pacífica que acontecia em frente ao então
Escritório Central da CSN, transformando o centro da Vila Santa Cecília em
verdadeiro campo de batalha. Além dos metalúrgicos, estavam naquela
manifestação, mulheres e crianças, donas de casas, professores, padres e representantes
de movimentos da Igreja Católica, que em Volta Redonda sempre apoiaram o
movimento dos operários. A comoção em torno da causa sempre foi generalizada.
Os militares invadiram a fábrica, atirando nos operários. O
saldo da operação foi a morte de William Fernandes Leite de 22 anos, Valmir
Freitas Monteiro de 27, Carlos Augusto Barroso de 19 anos, além de 46 feridos (segundo
dados oficiais). Segundo relatos, Valmir foi atingido por um tiro na nuca e
gritou: "Está doendo, acho que me acertaram". Barroso, além dos tiros
recebidos, teve o crânio esmagado por coronhadas de fuzil. William estava
voltando do refeitório na hora que os soldados começaram a atirar. Foi
surpreendido e, mesmo atingido pelos tiros, ainda andou cerca de 30 metros.
Quando caiu, seus companheiros viram que já estava morto e carregaram o corpo
para junto dos soldados, pedindo atendimento.
O enterro dos jovens e a missa de sétimo dia levaram
milhares às ruas da cidade nos dias seguintes às mortes. Mesmo depois do assassinato dos três operários, a greve continuou até a conquista das reivindicações e a
retirada do Exército do município, o que aconteceu em 24 de novembro. Cabe aqui
o relato de Sandra Veiga e Isaque Fonseca retirado do livro Volta Redonda – Entre o aço e as armas.
“A greve prosseguiu até o dia 23 de novembro, quando
realizou-se, em frente ao escritório central da CSN, uma dramática Assembléia.
Luiz Albano abre os trabalhos chamando, um a um, os operários mortos no
confronto com o Exército, ao que a Assembléia responde: ‘Presente!’ Luizinho,
primeiro orador inscrito, exalta a bravura dos operários e conclama ao fim da
greve. No mesmo tom, seguem-se Marcelo Felício, Vanderlei Barcellos e,
finalmente, Juarez Antunes.”

Sobre o ano de 1989, quando ia ser erguido o memorial, o ex-oficial relatou o seguinte: “o
Exército achou que aquilo era uma afronta, que se estava querendo criar
mártires”. Contou ter recebido uma ordem do então coronel Álvaro de
Souza Pinheiro para explodir o monumento, e quando se recusou, a tarefa foi
cumprida por outros agentes. “A dinamite foi dada pelos bicheiros do Rio e
tirada de pedreiras da Baixada Fluminense. Eles ajudaram a montar um paiol com
munição que depois seria usada em várias operações irregulares”, disse.
Memória local e
nacional - A praça onde foi erguido o monumento está também impregnada de
simbologia. Localizada entre a entrada principal da CSN e o antigo Escritório
Central, sede das decisões administrativas da empresa, o local foi palco de assembleias
históricas, como a que contou com a presença do ex-presidente Lula, então líder
sindical do ABC paulista. Foi o ponto de partida do cortejo fúnebre do prefeito
Juarez Antunes, morto em 1988 (logo após a greve), num controverso suposto acidente de automóvel,
cortejo este que levou mais de 100 mil pessoas às ruas, entre outros
acontecimentos.
Hoje é comemorado o 24º aniversário da morte de William,
Valmir e Barroso. Com exceção de William – que era filiado ao PT – nenhum deles
era ativista. Também eles viraram símbolos de uma época crucial para a
história do município e do país.
1 de novembro de 2012
Um samba de ausência
Eu fiz um samba sem dor
Pois a minha, apesar de tê-la
Não é tamanha que mereça, ela
Um hino sequer de expiação
Eu fiz um samba sem mulata
Pois a minha inspiração
Apesar das curvas violão
É branca, de cabelos negros
E meio desengonçado é o seu requebrado
Eu fiz um samba sem favela
Pois apesar da consternação
Pelos que vivem lá
E da admiração por suas lutas
Meus pés sempre estiveram fincados no chão
Mais próximos do nível do mar
Eu fiz um samba sem ziriguidum
Balacobaco, laiaraiá
Telecoteco, lerêlerê
Pois apesar de ter aprendido
Da professora a onomatopeia
Na escola do sambista não fiz estreia
Se podem ser chamados de samba
Esses meus versos de ausência, caro sambista
Não sei, nem faço questão
Posso, apesar disso, dizer:
Fiz um samba com muito respeito e admiração
A arte que é fazer samba
A arte que é fazer samba